Brigou a carreira inteira contra o apelido de Pelé Europeu, e nem europeu ele era. Eusébio (5/1/1943-) nasce em Lourenço Marques, Moçambique, então colônia portuguesa na África, e se consagra no futebol em Portugal, o país onde brilhou. Eusébio lembra muito o Rei Pelé. Assim como o brasileiro, era negro, robusto, de família humilde, tinha uma habilidade incomum e fazia gols, muitos gols. Num livro que escreve após a Copa de 1966, o craque africano reclama: "A minha sombra é negra, é Pelé. Na ânsia de arranjarem legendas bombásticas, têm-me chamado de ‘Pelé da Europa’. Por favor, não me chamem disso. Pelé é Pelé. Meu nome é Eusébio". Um nome que presente na história do futebol mundial. Aos 17 anos Eusébio já era motivo de discussão. Descoberto no Sporting de Lourenço Marques, Moçambique, ele assina contrato com o Benfica, de Portugal. O Sporting Lisboa entra na Justiça alegando que o clube moçambicano era uma filial sua e deveria dar prioridade ao Sporting. Depois de quase seis meses o Benfica leva a melhor. Aos 18 anos, o atacante estréia no time B, jogando contra o Atlético de Lisboa. Ele marca três gols e não pára mais. No mesmo ano entra para a Seleção Portuguesa que fracassa nas eliminatórias da Copa do Mundo. Um ano depois, dois gols seus decidem a Copa dos Campeões da Europa. O Benfica conquista o título em cima do Real Madrid de Puskas e Di Stefano: 5 x 3. Eusébio fez gols de todas as formas. São 316 em 294 jogos pela Primeira Divisão portuguesa, 97 em 60 jogos pela Copa de Portugal. É também seis vezes o artilheiro do Campeonato Português, duas vezes o maior artilheiro da Europa e o artilheiro da Copa de 1966, a única que disputa. Quase leva Portugal à decisão com seus gols: um contra a Bulgária, dois contra o Brasil, quatro na Coréia do Norte. Fez mais um na semifinal, mas seu time enfrenta os donos da casa, em Wembley, e fracassa. O estádio londrino é, aliás, palco da outra grande decepção da carreira de Eusébio. Na decisão da Copa dos Campeões de 1968, ele perde um gol feito no último minuto contra o Manchester United, dando o título ao clube inglês. Eusébio marcou 47 gols em copas européias, apenas dois a menos que a marca do recordista absoluto, Di Stefano. Ótimo cabeceador, chutava indistintamente com os dois pés, veloz, se colocava muito bem e esbanjava inteligência. Chega a ganhar uma Bola de Ouro de melhor jogador da Europa e foi vice duas vezes. Joga pelo Benfica durante 15 anos, uma época de glórias para o time de Lisboa. Mas tanto tempo no pequeno futebol português impede uma projeção maior no futebol mundial. Depois de um bicampeonato no começo dos anos 60, os portugueses só foram conquistar um título europeu de clubes na década de 80. A Seleção Portuguesa fica de fora dos Mundiais de 1970 e 1974, apesar de seus gols. Em 1969, fica em último lugar no grupo em que se classificam os romenos. Quatro anos depois, perdem a vaga para a Bulgária. O Benfica fez infinitas excursões mundo afora. Numa delas, Eusébio machuca o joelho esquerdo. Operado, volta aos campos sem a velha saúde. As lesões começam a marcá-lo com rigor. Em 1974, pela primeira vez desde os anos 60, é excluído de uma convocação da Seleção Portuguesa. Aos 32 anos, enfim, o Benfica vende-o para a liga norte-americana. Lá, vaga de clube em clube, visivelmente acima do peso e esperando a bola vir para então mostrar sua arte. Hoje, quem quiser vê-lo é só ir ao Estádio da Luz, em Lisboa: ele está sempre parado na entrada principal, sob a forma de estátua. Homenagem merecida ao maior jogador da história do Benfica, de Portugal e da África.